Durante o último quarto do século XIX, a psiquiatria brasileira estruturou seus discursos em torno da sexualidade. Ela tornou-se o principal elemento na classificação/criação das identidades "desviantes" após 1870, portanto no período de decadência do Império. A ascensão das chamadas "novas idéias" e as medidas abolicionistas fizeram emergir temores sobre a população negra - entendida como perigo social -, o que levou a uma nova forma de compreensão da sociedade brasileira e de seus "desvios". Neste livro, Renato Beluche mostra que este foi o contexto onde surgiram reflexões que utilizaram a sexualidade como uma estratégia de crítica da velha ordem, mas também de consolidação de uma nova, burguesa, que mantivesse hierarquias raciais e de gênero, de forma que, em nossa República, vigorasse a desejada ordem e, a partir dela, alcançássemos aquele grande mito do dezenove, o progresso.