Há cerca de um século, a Academia Brasileira de Letras ditava regras não apenas linguísticas. Os literatos eram figuras públicas. Neste livro, Maurício Silva mostra que aquele era um tempo em que a Academia, mais que a própria literatura, parecia ser o fenômeno central da vida do espírito entre os brasileiros, a partir e em torno do qual toda uma ideologia se exprimia – o academicismo. Tal ideologia, em seus esforços por corresponder aos anseios de uma época pretensamente bela, forjava o espelhamento entre criação literária e vida social, num movimento que acabou por alcançar a literatura a condições de “sorriso da sociedade”, na expressão de um de seus maiores expoentes, o médico, escritor e o acadêmico Afrânio Peixoto.Entre um momento e outro, sabemos bem o que aconteceu: a belle époque tropical perdeu o brilho, suas imprudências cosmopolitas cederam lugar ao nacionalismo, seu mundanismo ao engajamento, e o modernismo se impôs como referencial estético-literário a autores, críticos e leitores. O sistema intelectual brasileiro, enfim, assumiu uma nova configuração, mais condizente com as profundas transformações sofridas pelo país no sentido da modernização capitalista. A Academia, em contrapartida, tornou-se símbolo de um passado a ser superado.