Este livro de Manuel Almeida Freire foi escrito no decurso de duas pestes mortíferas (a pandemia do vírus Covid-19 e a guerra suja de Putin) e de outra ainda mais mortífera (a anunciada peste climática, que tudo indica ir pôr fim à vida no planeta que habitamos). Este pano de fundo convoca indignação e, no caso de haver talento disponível, a expressão acutilante dessa indignação. O horror que defrontamos não se compadece com uma linguagem penteada e vigiada, antes sugere, com grande força e acinte, o uso deliberado daquele calão feio, do qual o grande poeta americano Carl Sandburg dizia que ele é a linguagem que arregaça as mangas, cospe nas mãos e vai à vida. O autor deste livro usa o verso livre, que notáveis poetas do século xx rejeitaram, mas que outros, igualmente notáveis, acolheram. O verso livre acomoda bem a linguagem brutal, vingativa e assassina, que se impõe, como reacção inútil mas incontornável, ao pesadelo que vivemos e promete ser terminal. O verso livre e (...)