Conta Santa Catarina de Sena que, num momento bem concreto, Cristo lhe deu o seu coração e ficou com o dela: operou uma troca. Todo aquele que um dia se deixou atrair por Cristo, passando a procurá-lo no silêncio da prece e na força unificadora da Eucaristia, conhece muito bem esta sensação, pois vê realizada em si a antiga promessa: Dar-vos-ei um coração novo e revestir-vos-ei de um novo espírito; tirarei o vosso coração de pedra e dar-vos-ei em seu lugar um coração de carne (Ez 36, 26). E, como no caso de Santa Catarina, o seu amor cresce impetuosamente: a fonte de que brotam os sentimentos ganha pureza e liberdade. Realizou-se nele o anseio de São Paulo: Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cfr. Fil 2, 5). Que sentimentos de Cristo são esses? É o que Jean Galot nos explica, num arco que vai do amor pelo Pai ao amor pelos homens, passando por esse aqueduto que é o amor por Maria. Dois aspectos - entre tantos - se podem destacar pelo seu valor literalmente imitável, que é o saldo prático que certamente ficará da leitura deste livro: o sentido de Filho do Pai Eterno e o amor pelos homens até ao holocausto. Também o viver cristão se torna amor de filho, como o de Cristo. As relações do homem com Deus ultrapassam então o marco sombrio do respeito temeroso para adquirirem a confiança e o à-vontade do filho muito querido no Filho bem-amado. No homem cujo coração pulsa em uníssono com as pulsações do coração de Cristo, tudo é também procurar a glória do Pai, satisfazer os menores desejos do Pai, desagravá-lo pelas ofensas à sua honra, amá-lo pelos que são também seus filhos, mas ainda não o descobriram ou lhe viraram as costas. A vida ganha aos poucos um clima de serenidade e paz, de segurança, que nenhum recurso e apoio deste mundo pode dar.