Assim que Aristides foi embora, Mirtes correu para o banheiro. Apressadamente, colocou pasta na escova de dentes e entrou debaixo do chuveiro. Tomava banho e escovava os dentes ao mesmo tempo. Sentia-se suja por abraçar e beijar aquele verme. Esfregava o corpo e os dentes com uma insistência maior do que a dos operadores de Telemarketing. No entanto, pasta de dente e sabonete não limpavam a sua alma que havia sido suja pelo contato com a alma dele. Alma de suburbano. Chorando, deitou-se no chão do banheiro e deixou a água do chuveiro cair sobre si. Estava exaurida, humilhada. Tentava não lembrar do que acabara de viver. Não queria recordar do beijo e de tudo o mais. Sentia um nojo invencível dele e de si mesma, a pior mulher da Terra. Desligou o chuveiro e se arrastou pelo chão até a cama. Deitou molhada, acabada, sem conseguir parar de chorar. Gritou de ódio. De cansaço, acabou dormindo. Ao acordar, parecia que tinha vivido uma espécie de transe. [...]