Depois de dois números especiais, dedicados aos 500 anos da educação no Brasil, o primeiro sobre educação escolar e o segundo sobre imagens e vozes da educação, retomamos os números regulares da Revista. A feitura dos números especiais e as providências relativas à transferência da secretaria da Revista de São Paulo para o Rio de Janeiro, atrasaram bastante o encaminhamento dos textos para a análise de pareceristas, assim como a montagem dos números regulares. O presente número contém artigos recebidos ao longo do último ano, vários apresentados durante a 23ª Reunião Anual. O primeiro deles é o texto da conferência de abertura nessa Reunião, comemorativa do centenário de nascimento de Anísio Teixeira. Clarice Nunes marca a vida e a obra de um dos maiores educadores brasileiros por três rupturas: a primeira, na juventude, quando se afasta da religião católica, a segunda, quando é afastado da Secretaria de Educação do Distrito Federal, em 1935, na qual realizava fecunda e inovadora gestão, a terceira, a partir da violenta intervenção militar na Universidade de Brasília, em 1964, da qual tinha sido um dos idealizadores, juntamente com Darcy Ribeiro e era então seu reitor. E finaliza o texto explorando a obra de Anísio Teixeira como provocação para pensar a e agir na educação brasileira hoje. Por coincidência, estavam disponíveis vários textos abordando, sob diferentes ângulos, a Educação Infantil, o que permitiu compor este número com ênfase nessa temática, atual e importante. Fúlvia Rosemberg analisa a importância e o papel da pesquisa na avaliação de programas, indicadores e projetos em Educação Infantil e a necessidade de ampliar o modelo vigente. Eloisa Acires Cardal Rocha enfrenta o desafio de desenvolver, a partir de reflexões teóricas e bases empíricas, uma autêntica Pedagogia da Infância. Maria Dolores Bombardelli Kappel, Maria Cristina Carvalho e Sonia Kramer, analisando os resultados da Pesquisa sobre Padrões de Vida do IBGE, realizada em 1996-1997, traçam o perfil das crianças de 0 a 6 anos que freqüentam creches, pré-escolas e escolas. Silvia Helena Vieira Cruz apresenta a visão de professoras e famílias sobre a creche comunitária de Fortaleza-Ceará. Os outros artigos cobrem temáticas também atuais e importantes. Michael Apple aborda o problema da etnia e da raça nas reformas educacionais. Ana Maria de Oliveira Galvão explora os resultados de pesquisa sobre processos de inserção de analfabetos e semi-alfabetizados na cultura escrita, no período 1930-1950. Dois artigos abordam temas teóricos: Jorge Larrosa faz uma abordagem filosófica da relação linguagem e educação, e Giovanni Semeraro elabora um estudo sobre a teoria do conhecimento em Gramsci. O tema de Carlos Roberto Jamil Cury e Maria Alice Nogueira, na seção Espaço Aberto, também é atual: meses atrás os jornais veiculavam diariamente notícias sobre processos e prisão de figuras públicas e periódicos de grande circulação dedicavam várias páginas à análise da responsabilidade criminal desses personagens. A prisão especial para aqueles que detêm um diploma de cursos superior era, até há pouco, privilégio pouco questionado, revista recentemente por recente lei do Congresso Nacional. Este número da Revista recupera também uma prática importante: a publicação de documentos da ANPEd, que traduzem tomadas de posição frente a políticas governamentais para as áreas de educação, ciência e tecnologia, ou no trato dos problemas universitários em geral e da pós-graduação em particular, assim como relativos a problemas políticos, econômicos e sociais que dizem respeito a vida de todos os brasileiros. Divulgamos nesta edição a Carta de Caxambu, votada na Assembléia de encerramento da 23.ª Reunião Anual e o documento redigido por Iria Brzezinski, que sintetiza a contribuição apresentada pela ANPEd nas audiências públicas sobre as Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica em curso de nível superior, promovidas durante os meses de março e abril deste ano pelo Conselho Nacional de Educação. Pretendemos que esta seção esteja presente em todos os números futuros. Como linha editorial da Revista Brasileira de Educação, sem desmerecer outras contribuições, estamos propondo continuar valorizando, na sua composição, especialmente artigos produzidos a partir de pesquisas, particularmente com discussão de políticas e teses fundamentais, artigos que façam varreduras de temas importantes ou que proponham agendas de pesquisas sobre temáticas de ponta, ensaios que contenham reflexão teórica sobre um tema, assim como textos que revelem novas perspectivas históricas da educação brasileira. Consideramos essencial mapear áreas ainda pouco abordadas e que se mostram importantes para a reflexão e ação educativa, por exemplo: educação ambiental, abordagens atuais sobre a juventude, gênero e relações raciais, relação economia e educação, avaliação de sistemas educacionais ou de práticas educativas. Pretendemos também voltar a publicar entrevistas com educadores destacados, do Brasil e do exterior, apresentando novos temas e abrindo perspectivas novas ou renovadas de análise dos fenômenos educativos.