Nada de sangue, de violência desmedida. Nada de histórias ligeiras nem superficiais e estéreis, tão em voga neste começo de século. No entanto, não nos enganemos. Nestes quinze contos que marcam a estréia literária de Suênio Campos de Lucena percebemos que são pelas dobras das suas palavras que se escondem as pequenas iniqüidades cotidianas. Suênio escreve desarrumando nossas verdades, expondo preconceitos, às vezes sombrios, perversos, insanos, mas necessários para mostrar que somos capazes dos atos mais grandiosos e vis, cruéis. Com isso, fala da rede de obstáculos com que o homem se depara diante da vida, do mundo. Há muito humor nos contos do estreante e a diversidade sexual está presente em algumas histórias marcadas por encontros e desencontros. É temerário destacar aqui um ou outro conto porque todos, sem exceção, pulsam frementes inquietações d'alma. Nelas, Suênio tenta mapear a tormentosa condição humana, com seus amores, seus ódios, sua crueldade. Egoísmo. Ciúme. Enfim, a torrente de paixões, ânsias, desejos. Eis o autor buscando revelar desvãos de homens e mulheres em histórias com enredos misteriosos e engraçados que surpreendem e encantam, razão maior de toda arte.