Amparada nas chamadas fontes primárias, principalmente em cartas, a professora delimitou sua pesquisa aos primórdios da ginecologia em Belo Horizonte - do início do século XX, até a década de 1939. As correspondências "dos pacientes" do primeiro "médico de senhoras" da cidade, o doutor Hugo Werneck foram reveladoras. Por meio delas se sabe que eram os maridos e pais que se dirigiam ao médico quando o assunto eram os "males" das mulheres. A intermediação de pais e maridos demonstrava que, em relação às mulheres, a medicina teria um longo caminho pela frente. Foi em razão disso que, particularmente em relação à ginecologia, coube aos médicos articularem, estratégica e pacientemente, toda uma construção da imagem de sua profissão. Essa articulação começava pela associação da imagem do médico "piedoso", freqüentador de missas e que perfazia, portanto, o ideal de um profissional respeitoso, o qual poderia ser confiado às famílias e ao resguardado corpo feminino. A substituição dos escritos generalizantes por aqueles calcados em investigações exaustivas em fontes primárias, além do enfoque de novos objetos, assim como o exame de especificidades locais, constituiu-se numa das mais positivas transformações da historiografia ocorridas a partir dos anos 1960/1970. Especialmente no Brasil, com a instauração dos cursos de pós-graduação, em sua grande maioria nos anos 1970, tais transformações logo encontraram eco dando lugar à emergência de uma série de conhecimentos que se mantinham ignorados. Essa obra inclui-se nesse movimento de mudanças e contribui para trazer à tona uma dimensão pouco conhecida da história brasileira. Situa-se no campo da História Cultural, o qual volta seu foco para a Medicina, mais precisamente no que tange à ginecologia, da qual um dos significados é o estreito contato do médico com o corpo feminino, empreitada das mais difíceis frente aos costumes e crenças vigentes no momento abordado: 1907-1937.