As putas de Marcela cometem reincidentemente dois crimes do mais alto risco. O primeiro, amar. O segundo, escrever. São mulheres que amam muito: amam a visão vertiginosa de uma outra mulher sorvendo um drinque azul à beira da piscina, amam a delicadeza da velhice nos olhos do próprio avô, amam a metafísica das lesmas, amam homens que as odeiam, amam outras mulheres através de suas nucas, amam como se tivessem nascido com uma tesoura entre os dedos (assim observa uma das narradoras sobre seu objeto de amor). São mulheres que tomam para si o mundo, seja amando, seja roubando, matando ou escrevendo. Esse amor-tesoura está presente na forma como elas picotam o mundo à sua volta e como o representam nos contos. Através desta observação quase pervertida, as narradoras veem em fragmentos de outros um universo inteiro e se alimentam disso, roubando para si o que viram. Olhar, ou pior, ver é a característica mais importante dos crimes que essas mulheres cometem. E, se a sua visão (...)