De forma visceral, as vidas de Dolores e Taís ganham, inegavelmente, através do texto da autora, o poder de tornarem-se tão vivas na mente do leitor que basta fechar os olhos para reencontrá-las. Não apenas pela realidade vivaz que sangra pelas linhas de suas histórias, mas também pela capacidade única da autora de transportar o leitor para a vida dessas mulheres, como se suas mãos, pés, mente, decisões, também a nós pertencessem. Esquecer de suas histórias? Impossível, afinal, Márcia costura seu enredo de modo a abolir os tradicionais conceitos de bem e mal, transformando-os em uma percepção extremamente humana de como nossas escolhas moldam nossos destinos, e, consecutivamente, as nossas vidas. Com a rota de suas existências entremeadas pela violência, pelas drogas, pela vida nas ruas, Dolores e Tais ainda conseguem lembrar ao leitor o quão humano é falhar, acertar, recomeçar, sobreviver, impelindo-o a um constante exercício de profunda reflexão.