Este livro propõe que os sentidos são "vias de acesso polifônicas" a Deus e defende uma maior aposta da Igreja no diálogo fé-cultura. "É impossível pensar um caminho de fé que não tenha a ver com o que ouvimos, o que vemos, o que tateamos, o que nos chega através do odor, muitas vezes invisível, ou então do sabor de Deus", afirma o autor, José Tolentino Mendonça. Para ele, "Os sentidos corporais, que depois se projetam em outros tantos espirituais, são vias de acesso polifônicas na diversidade que a vida precisa para exprimir-se" e a pessoa não se pode reduzir "a uma categoria" ou "o chamamento a uma única estrada", porque levaria à perda de uma "multiplicidade de acessos ao horizonte de Deus". Pe. Tolentino Mendonça sustenta que há um Evangelho que "só a pele apreende", que "a fraternidade se exprime também pelo tato", escrevendo que "o pão da Eucaristia é o pão de mil sabores" e que "o odor permite uma aprendizagem do invisível". Para o escritor, é necessário "fazer um caminho" com os sentidos, não circunscrevendo a procura espiritual à audição e à visão. Nesse contexto, observa que "a audição se faz com os ouvidos mas também com o coração" e que é necessário "vigiar" a qualidade da escuta, ouvindo "o dito e o não dito, o fora e o avesso, o presente e o futuro que é dado em cada instante". Considerando a visão "um milagre absoluto e uma escola de vida espiritual", José Tolentino Mendonça afirma que o olhar tem de "crescer e ligar aquilo que é do tempo àquilo que é o eterno". No livro A mística do instante, o autor escreve um "ensaio teológico" para falar "a crentes e a não crentes", referindo que o "itinerário para chegar a Deus é o que a própria pessoa é" e que "a literatura é uma grande conversa humana". "O que pretendo neste livro é conversar. Não é uma conversa que foge às questões mais imediatas do dia a dia, mas não é abstrata, sobre querubins e serafins, mas sobre a vida, sobre a pessoa humana, sobre o que nós somos e demasiadas vezes é deixado submerso e adiado", sublinha José Tolentino Mendonça.