Em 1972 o País vivia a pior fase da ditadura militar. Numa rua de Belo Horizonte uma patrulha armada aborda um moço de longos cabelos loiros, até a cintura. Pensavam ser "Alemão", um dissidente procurado. Desfeito o engano, restou por parte dos policiais apenas a ironia e o preconceito contra aquele cabeludo. Alberto Villas foi naquele mesmo momento providenciar a foto para o passaporte. A atmosfera havia se tornado irrespirável para o jovem jornalista no Brasil. Afinal, o que viemos fazer em Paris?, que a Editora Globo acaba de lançar conta as memórias desse exílio voluntário na capital francesa. Villas, autor do sucesso O Mundo Acabou, também editado pela Globo, descreve suas experiências em textos curtos ao ritmo da memória e do sentimento. A um oceano de distância, as imagens do Brasil, e de Minas Gerais em particular, vão se tornando mais nítidas e mais agudas. Humberto Werneck, na apresentação do livro, descreve essa característica peculiar de quem olha para o País a partir do exterior: "Paris foi para o Villas sobretudo um ponto de ver - não só o que se abriu ante seus olhos nos esplêndidos anos de juventude em que lá viveu como também aquilo que ficara atrás, a infância e a adolescência de brasileirinho das Gerais. Foi lá, tenho certeza, que ele refinou a inteligência e a sensibilidade do ótimo repórter que veio a ser, e, mais do que isso, do artista que sempre foi". E essa sensibilidade do repórter aliada à do artista fazem o sabor e a fluência do livro, que levam o leitor a um mergulho naquela época de tantas transformações. Villas dividiu seu livro em quatro partes. A primeira conta as impressões de Paris - os amigos, os trabalhos de imigrante (e depois, já como jornalista), os dias gelados, o nascimento dos filhos, as viagens pela Europa e pelo mundo árabe que fez nesse período. A segunda parte está recheada de memórias da infância e da adolescência em Belo Horizonte, com os almoços dominicais em família, os modismos e os costumes que mostram com muito colorido como foi o cotidiano daquele tempo. Em seguida, o autor faz um verdadeiro balanço sentimental da música brasileira ouvida no exílio: os discos e fitas eram esperados ansiosamente, e a cada novo Chico Buarque, Caetano, Alceu Valença, Maria Bethânia ou João Bosco, Paris se tornava um pouco mais tropical. Por fim, na última parte, Villas oferece as anotações de diário e os fragmentos de cartas trocadas com amigos. É uma maneira de trazer ao leitor a palavra viva daquele período. Se a literatura brasileira produziu grandes obras de memórias e algumas belas mas tristes "canções do exílio", Afinal, o que viemos fazer em Paris?, se destaca pelo humor, pela leveza e curiosidade de um jovem que descobria os encantos da Europa ao mesmo tempo em que reinventava o sentimento pelo calor da cultura brasileira.Em 1972 o País vivia a pior fase da ditadura militar. Numa rua de Belo Horizonte uma patrulha armada aborda um moço de longos cabelos loiros, até a cintura. Pensavam ser Alemão, um dissidente procurado. Desfeito o engano, restou por parte dos policiais apenas a ironia e o preconceito contra aquele cabeludo. Alberto Villas foi naquele mesmo momento providenciar a foto para o passaporte. A atmosfera havia se tornado irrespirável para o jovem jornalista no Brasil. Afinal, o que viemos fazer em Paris?, que a Editora Globo acaba de lançar conta as memórias desse exílio voluntário na capital francesa. Villas, autor do sucesso O Mundo Acabou, também editado pela Globo, descreve suas experiências em textos curtos ao ritmo da memória e do sentimento. A um oceano de distância, as imagens do Brasil, e de Minas Gerais em particular, vão se tornando mais nítidas e mais agudas.