Desnudar a alma: tarefa para poucos, para fortes, para o corpo. Tarefa que Juliana Dacoregio cumpre com vigor e maestria em livro de poemas Alma Nua, trazendo consigo um dado a ver quase fugidio e que, assim sendo, nos força a alternância do olhar; ora para dentro, ora para fora. Caminho de escritos traçados no qual se impõe a “mulher-poema”: uma mulher para se ler e interpretar, mostrando não só aquela que escreve, ou seja, a poeta, mas aquela que é. A autora nos oferece a pura poesia do ser: poema nu. “De tanto que me possuo, não sinto mais medo”. E é sem medo que se despe, poema após poema, letra por letra, em um jogo de aparições de si, “chove e permanece essência”. Obra original na qual Juliana Dacoregio busca o desnudamento da alma, seja no sofrimento, seja na santificação. É nessa busca que a autora se mostra inteira, inteira naquilo que faz para recobrir, com “carinho redondo”, o buraco da falta, mostrando-se uma e outras, “inteira de partes”. Apontando aquilo que é incompleto no ser, ainda que nu, diz do seu fazer poético: “minha falta é pretexto”, sua falta é o pré-texto, é a partir dela que a autora se coloca aos leitores, paradoxalmente inteira e sem máscaras.