O livro que o leitor tem em mãos aborda essa questão de uma maneira original, ao analisar as administrações dos dois impérios, em sua disputa agravada com as indefinições do Tratado de Madrid pelas áreas confinantes entre as províncias de Mojos, Chiquitos e Paraguai e a capitania de Mato Grosso. Já se sabia que espanhóis e portugueses, nas áreas sob litígio, recorreram à criação de fortificações e vilas, ao estabelecimento de colonos e à atração das populações indígenas dos arrabaldes. A novidade do presente estudo consiste em enfatizar que a delegação de responsabilidades e a transferência de custos aos mesmos índios e colonos constituíam dispositivos fundamentais da governança da fronteira. O autor questiona a ideia corrente na historiografia de que a Coroa impunha aos colonos sua vontade. Havia, na realidade, uma negociação assimétrica entre a Coroa e esses moradores, e a governabilidade era garantida pela concessão (ou a promessa de concessão) de certos privilégios e benefícios, desigualmente distribuídos. Na disputa pela lealdade das populações fronteiriças, o Estado que dispusesse de recursos e de funcionários hábeis, capazes de mobilizar iniciativas locais, podia estar à frente no processo de consolidação da soberania territorial.