"A verdadeira revisão do marxismo, no sentido de renovação e continuação da obra de Marx, foi realizada na teoria e na prática por outra categoria de intelectuais revolucionários. Georges Sorel, em estudos que separam e distinguem o que em Marx é essencial ou substantivo daquilo que é formal e contingente, representou nas primeiras décadas do século atual talvez mais do que a reação do sentimento classista dos sindicatos o retorno à concepção dinâmica e revolucionária de Marx e sua inserção na nova realidade intelectual e orgânica, contrariamente à degeneração evolucionista e parlamentar do socialismo. Através de Sorel, o marxismo assimila os elementos e aquisições substanciais das correntes filosóficas posteriores a Marx. Superando as bases racionalistas e positivistas do socialismo de sua época, Sorel encontra em Bergson e nos pragmatistas ideias que dão vigor ao pensamento socialista, restituindo-o à missão revolucionária da qual o havia gradualmente afastado o aburguesamento intelectual e espiritual dos partidos e de seus parlamentares, que se satisfaziam no campo filosófico com o historicismo mais raso e o evolucionismo mais assustado. A teoria dos mitos revolucionários, que aplica ao movimento socialista a experiência dos movimentos religiosos, estabelece as bases de uma filosofia da revolução, profundamente impregnada de realismo psicológico e sociológico, ao mesmo tempo que se antecipa às conclusões do relativismo contemporâneo, tão caras a Henri de Man."