Ao longo da história, o exercício da antropologia admitiu duas abordagens bem diferentes. Exemplo da primeira foi Sir James Frazer (1845-1941), homem de vasta erudição que procurou observar o mundo em grande escala, a partir dos livros, sem ter contato direto com a vida dos povos primitivos que descreveu. Exemplo da segunda foi Bronislaw Malinowski (1884-1942), cuja obra se baseou em pesquisas que realizou pessoalmente, imerso durante quatro anos em uma minúscula aldeia da Melanésia. Claude Lévi-Strauss (1908-2009) experimentou os dois caminhos. Foi um intelectual da tradição erudita de Frazer, mas não buscou construir uma obra detalhista e enciclopédica; fez trabalho de campo como Malinowski, mas não compartilhou tão extensamente a vida cotidiana dos povos que estudou, cujas línguas nem sequer chegou a aprender. Nomeado professor de filosofia na França em 1931, Lévi-Strauss veio para o Brasil em 1935 para ensinar sociologia na Universidade de São Paulo e pesquisar povos indígenas. Não pretendia descrever sociedades específicas, e sim compreender melhor o espírito humano. Suas observações sobre estruturas do parentesco, mitos e sistemas primitivos de classificação levaram-no a fundar a antropologia estrutural. O que chamou de "estruturas" não são realidades empiricamente observáveis, mas construções intelectuais abstratas que pretendem tornar inteligível o real. Para ele, a cultura funciona como uma linguagem e a vida social é um sistema de signos. Assim como o indivíduo falante não é capaz de explicar os mecanismos da língua que usa, os integrantes de uma sociedade também desconhecem a natureza profunda das práticas sociais em que estão imersos.