"Apesar de privada do status de disciplina autônoma, existiu, todavia, uma historiografia filosófica medieval. No universo cultural da Idade Média se observa, de fato, a circulação de um núcleo respeitável de materiais histórico-filosóficos, inserido em diferentes contextos formais e utilizado com motivações diversas, mas homogêneo e ordenado quanto à sua estrutura interna. As abordagens deste tipo dispunham mesmo de uma legitimação ideal, visto que as filosofias dos gentios representavam as partes mais preciosas daquele "ouro dos egípcios" (Ex 3,22) que, segundo a bem conhecida exegese agostiniana, pertence de direito aos seguidores do verdadeiro Deus; ainda que, vistas pelo lado da polêmica heresiológica, essas filosofias fossem consideradas com as matrizes das heresias que, desde os primeiros séculos, atormentavam o corpo da Igreja".