Numa época que levou a visibilidade ao paroxismo, não é fácil compreender quais são os limites e as fendas de nosso campo de visão: o que vemos quando olhamos, e por quê? O que veem, e o que não conseguem enxergar, esses múltiplos olhares que persistentemente nos esquadrinham? Difícil é identificar, porém, o que se exclui desse território em vertiginoso alargamento: o que deixamos de vislumbrar por tanto querer vigiar e mostrar, enquanto rascunhos imprevistos vão se gestando nas nervuras menos aparentes desse "regime". O livro percorre de modo instigante os múltiplos aspectos de uma vigilância distribuída por redes cujos fios passam tanto por procedimentos de segurança e controle quanto por processos subjetivos, afetivos, estéticos, todos eles misturados às tecnologias por onde se inscrevem os rastros de nossas ações cotidianas: meios massivos de comunicação, Internet, smartphones, dispositivos de geolocalização, câmeras de vigilância etc. Mas se corporações e Estados monitoram avidamente a trilha de ouro de nossos rastros, outras táticas disputam estas mesmas tecnologias, operando seja ações de contravigilância, seja gestos políticos e artísticos que criam brechas na exasperada busca contemporânea por visibilidade. As faces deste processo pleno de ambiguidades se tornam especialmente sensíveis pelo modo como a autora nos convida a percorrer a trajetória de uma pesquisa iniciada em 2003, chegando até a ponta afiada do presente. A inserção de passagens do blog que acompanha a pesquisa oferece um interessante diário de bordo que, dialogando com o texto principal, conduz o leitor na travessia por conceitos, práticas e exemplos recentes que articulam máquinas de ver e modos de ser.