Tudo que é vivo morre. Não há como impedir. E a dra. Helena Colden quase morta, mas ainda presa a sua vida material, sente isso com intensidade. Ela era veterinária e fazia parte da sua profissão facilitar a morte daqueles seres. Salvava vidas, mas depois às vezes ela as tirava. Naquele momento intermediário e também crucial, ela percebe claramente a dissonância criada pelas suas ações. Em Por dizer, o autor estreante Neil Abramson, também reconhecido advogado especializado em defesa dos animais, constrói uma narrativa inspirada e que toca em temas polêmicos: a espiritualidade e afetividade mantida entre homens e bichos mesmo após a morte e a possível sobrevivência da consciência humana. Apesar de morta, Helena continua vinculada a todos aqueles que amava. David, seu marido e advogado; seis gatos, a porca, Collete, o casal de cavalos, Alice e Arthur; o labrador Chip, Bernie e um pastor schipperke, chamado Skippy. Atraída pelo leve cheiro de anestésico, álcool, fezes de cães e urina de gato, a consciência de Helena retorna também para o consultório onde trabalhava com o doutor Joshua Marks. O contato com os procedimentos cotidianos na clínica mexe com suas emoções e a faz recordar de fatos marcantes de sua vida. No seu transe espiritual, Helena reencontra personagens que a marcaram e se vê novamente envolvida a problemáticas passadas. Em Por dizer o autor constrói, utilizando uma linguagem tocante e vinculada à espiritualidade, um rico painel sobre as relações e vínculos estabelecidos em vida, mas que sobrevivem ao tempo e até mesmo à morte. Neil Abramson foca sua atenção principalmente na capacidade humana de transformação. Se tudo morre, tudo muda. Mas o amor e consciência entre homens e animais permanecem.