Na literatura brasileira, são poucas as dicções tão reconhecíveis como as que neste romance-meditação se apresentam. “Nossa ontológica personagem”, protagonista, é um pretexto, uma sugestão de uma voz interior identificável, habilmente tecida pela conhecida mão dicionaresca de Evandro Affonso Ferreira. Nas elipses misteriosas de Perdeu vontade de espiar cotidianos, a intuição sonora é fundamental: o leitor descobrirá aos poucos o texto, a clareza não será prescindível, a deriva não sobressairá neste caminho que poderia, sim, não levar a lugar algum. Mas que acaba por nos conduzir a uma espécie de graça inescapável. Neste novo romance, Evandro Affonso Ferreira recupera suas temáticas habituais: a solidão, a desesperança, o acaso, a “anatomia do inimaginável”. Mas, sobretudo, a linguagem, procurando sempre inaugurar novos nomes para as coisas, novos modos de acessar as palavras