Trégua: suspensão temporária de hostilidades; cessação temporária de estado ou ação desagradável. Assim lê-se no dicionário. Mas o que se lê nestes breves e intensos poemas de Claudia Itaborahy é que a trégua não separa um campo dos outros, um momento dos outros: o intervalo entre a queda de início, o corte, a outra cena e o corre partes que compõem o livro é mais um intervalo doloroso (como Bernardo Soares costumava nomear alguns de seus fragmentos, que vieram a compor o Livro do desassossego) do que exatamente um descanso. Não descansamos neste livro: estamos perpetuamente a cair. Mas a queda é livre, como a de alguns planadores que se deixam levar pelo sopro dos ventos. E a dor, então, não é exatamente a da queda, mas a de sua suspensão, que nos permitever do alto o que se passa lá embaixo, na cidade de onde estamos ausentes: olhar a cidade/ do alto/grande/sem saber/onde você está. A chuva cai, a vida cai, eu caio, tu cais. Não há trégua, a não ser a da queda (...)