Afirmar hoje que a órbita dos planetas descreve uma elipse ou que seu movimento não é uniforme não é nenhuma novidade - é apenas enunciar duas leis básicas da astronomia moderna. Não era bem assim na época em que Johannes Kepler (1571-1630) fez suas descobertas. Numa Europa convulsionada pelos conflitos da Contrarreforma, o melhor era não proclamar nada em voz alta, mesmo que décadas antes Copérnico já tivesse previsto que a Terra girava em torno do Sol. Recém-ingressado na Universidade de Tübingen, o então modesto estudante de teologia Johannes Kepler decidiu se lançar à perigosa tarefa de comprovar a descoberta de Copérnico. Tinha a seu lado o mestre e mentor Michael Maestlin (1550-1631), um dos astrônomos mais talentosos da época. Quatro décadas mais tarde, octogenário e angustiado por não ter dado ao pupilo o apoio de que necessitava, Maestlin relembra a atribulada trajetória pessoal e intelectual de Kepler.