Depois do 11 de Setembro, tornou-se lugar-comum situar as raízes do radicalismo de Ossama bin Laden no revivalismo político islâmico que varreu o Médio Oriente após 1979 e também na sua intervenção durante a guerra afegã anti-soviética. Mas não devemos subvalorizar a influência que o relacionamento entre Ossama, a sua família e o seu país exerceu sobre ele. Foi esta esfera privada que os Bin Ladens e a família real saudita procuraram manter tão longe dos «media» quanto possível. Ossama e os seus 53 irmãos herdaram uma fortuna considerável, mas nasceram numa sociedade pobre onde não existiam escolas públicas nem universidades, onde os papéis sociais eram rígidos, onde a religião dominava a vida pública e intelectual. A saga dos Bin Ladens mostra como o contexto social e cultural desta família sofreu profundas alterações. Os Bin Ladens alcançaram enorme riqueza e poder e tornaram-se peças-chave na criação da aliança entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita durante a era do petróleo. Até Ossama se assumir como terrorista internacional, a sua família investia muito mais nos Estados Unidos do que geralmente se pensa - os seus irmãos eram proprietários de centros comerciais, propriedades de luxo e prisões, acções de empresas cotadas em bolsa, um aeroporto e muito mais. Estudavam em universidades norte-americanas, tinham relações de amizade e de negócios com cidadãos americanos e procuravam obter passaportes americanos para os seus filhos. Financiavam filmes produzidos em Hollywood, negociavam puros-sangues com o cantor de música «country» Kenny Rogers e tinham negócios com Donald Trump. Consideravam George Bush, Jimmy Carter e o príncipe Carlos de Inglaterra como amigos da família. Tanto num sentido literal como cultural, a família Bin Laden era dona de uma fatia impressionante dos Estados Unidos a que Ossama declarou guerra.