Os verdadeiros precursores de Freud foram os escritores, disse-me Ariane Severo. Era novembro de 2010, e ela estava me convidando para montarmos uma oficina de dois meses sobre Literatura e Psicanálise. Trabalhamos juntos no projeto e acreditamos que deu certo. Hoje, ao terminar a leitura deste livro, fico seguro disso. Porque seus autores participaram, quase todos, daquela oficina experimental. Quanto à Ariane, orgulho-me do trabalho que realizou durante dois anos, burilando estas joias que justificam a importância dada por Freud à imaginação criativa. E agora, como quem prova diferentes vinhos, vamos degustar um conto de cada autor deste livro. Ana Helena, em Un tiempo de tristeza y soledad, pinta com palavras a mensagem de Frida Khalo: O México chora. Minha alma grita. Quer o vermelho do meu sangue. Berenice reencarna Gradiva, no Encontro em Pompeia: A Via dos Sepulcros! Casa de Diomedes. Melhor desaparecer nas entranhas das ruínas e esperar que ele desista... Circe, em Nasce um conto, começa onde Kandinsky recomenda: Um ponto. Uma luz, uma cor. O pensamento corre solto como um cavalo bravio. E as formas se ajeitam na folha, trazendo aquilo que a emoção quer mostrar. Danci, em O preço do perdão, narra o drama de Valéria, cujo pai detonou uma bala na cabeça. E ela não chorou sua morte, pois, se matando, tinha provado que não a amava. Até que, percorrendo o mesmo caminho, descobre outra verdade. Lourdes, em O pedido, nos brinda com a própria essência da ecologia. Aquele pedido da mulher para a árvore não dar mais frutos, porque eles caem nos telhados dos vizinhos e ela será obrigada a cortá-la, o que nos corta, de verdade, é o coração. Maria de Jesus costuma voltar à infância em busca de água pura. Mas foi junto às águas poluídas do arroio Dilúvio que ambientou As sete palmeiras. A história de um serial killer que emudece a todos diante da lucidez da loucura. Mirian, em Desenhos da alma, revela a angústia de quem se sabe prisioneira. Como um bebê, mesmo no [...]