"Lançados fora" por muitos desses poemas se colocarem fora da gravidade de certa tradição poética, por exemplo, ao jogar com um humor sutil ( Só porque era conselho, A rigor). "Lançados fora" por alguns estarem aparentemente para além das comarcas do gênero (Sumário). Ou "Lançados fora" por sugerirem uma presença outra do autor (para além de seu sentido romântico), que aqui é também aquele que dá vazão aos poemas ou a vozes alheias. "Lançados fora" nem tanto pela ausência de conjunto e menos ainda por um desengavetar de poemas recusados ou por não preverem um leitor à altura. O campo temático é muito amplo, desde os mais sutis e metalingüísticos (Volátil, Revide o verso, Paradoxo do contrato da língua), aos mais extralingüísticos e drásticos (Quando não há aniversário, Casa dos desprovidos, Vitral). As imagens poéticas, de forma análoga, por vezes são abstratas e de uma brancura de Mallarmé ("de corola inversa / branca e requintada / cópula") e por vezes são espessas, cortantes e de cores fortes ("as velas queimam cerejas"). Os poemas em forma de prosa são alguns dos menos prosaicos (Quando se morre, Silogismo do acaso). Além da significação, alguns textos buscam mostrar a densidade poética e a especificidade do poema através da desestabilização da sintaxe cotidiana, da quebra não casual de versos e sílabas (De um lado a outro), da sonoridade e do ritmo ("quem instalou trêmulo impróprio da probidade") e do caráter gráfico, a saber, os próprios poemas como imagens, e o livro não vê como tola esta possibilidade (bem sucedida em O maior arranjo do mundo e O artesanato, nos quais a própria invenção de uma natureza paralela e humana está em questão). O leitor é sempre demandado; o autor mantém com ele um diálogo, mais explícito nas notas de rodapé (Paradoxo, Sumário e Um ponto qualquer no globo e suas voltas) e nos parênteses (Em busca do amor mágico). O diálogo é também com a própria tradição: o que pode e o que não pode ser poesia? Paulo José Vieira