Enfim as mulheres podem se olhar no espelho. Não aquele que reflete teses enfadonhas sobre a questão da mulher, nem os que estão com os reflexos condicionados ao olhar masculino sobre a mulher. A escritora portuguesa Clara Pinto Correia fala de um universo feminino de cabeleireiros, calcinhas de renda transparente, depilação, cortes de cabelos, supermercados, beijinhos para cá, beijinhos para lá, solidariedade no sofrimento com os homens. Um clube exclusivo para diversões e gargalhadas femininas que raramente aparece na literatura. Há ainda algo mais atraente nestas mulheres de Clara, que é a alma feminina portuguesa, evidentemente muito semelhante à da brasileira. Especialmente num ponto. Como sofre a mulher portuguesa! É um culto à dor do amor, revelando por que a brasileira também tem o hábito de se dilacerar por amor. tanto nas amizades entre homens quanto nas de mulheres. A diferença é que em “Ponto pé de flor”, uma discussão animada sobre lingerie pode ser a maior diversão e, ao mesmo tempo, uma revelação de um universo que, como diz a própria autora, “sempre esteve numa zona de sombra da literatura.