A beleza destes sonetos não é a que encanta ou fascina, a que irradia de versos límpidos, com imagens harmoniosas e assépticas, como o senso comum muitas vezes espera de um soneto. Não. A beleza surge aqui de lugares imprevistos e improváveis, nascendo e emanando das margens beleza que nossos olhos tantas vezes não veem, ou por estarem embotados pelo cotidiano programado em que vivemos, ou por se deixarem vendar pelo preconceito. Beleza que se revela na solidariedade para com aqueles que sofrem a dor da injustiça; na empatia pelos sem abrigo, pelos esquecidos, degradados pela miséria; na força incansável do afeto, manifestada na perseverança de amantes contra a hostilidade do julgamento alheio, no amor abnegado de um cão abandonado por seu dono, no afinco da mãe em proteger o filho de um mundo adverso Mas a mão que escreve estes sonetos não vem apenas acolher e afagar os que sofrem. Ela também é feroz e impiedosa em apontar e acusar os culpados por nossas mazelas, em mostrar as (...)