É um livro importante tanto porque trata da Amazônia o que é fundamental, como porque concentra a análise numa área da Amazônia - a várzea - que apesar de ter sido objeto de investigações importantes desde os anos quarenta do século passado, como os trabalhos de Hilgard O'Reilly Sternberg (1998), ainda necessita, e necessita muito, de estudos aprofundados pela sua importância para as populações que aqui viviam no período anterior à colonização e porque as várzeas se constituíram na base de circulação e de penetração do projeto colonizador. O livro é igualmente indispensável por abordar o tema da vivência do homem da várzea, articulando de modo competente uma boa fundamentação teórica e aquilo que poderíamos denominar da vida cotidiana dos povos da floresta, da água e da terra das várzeas amazônicas. Apesar do rigor metodológico, este é um livro meio escrito, meio falado, mas sobretudo, sentido, em que a ciência e a sensibilidade do autor se imbricam num relato articulado e numa competente descrição da paisagem e do modo de vida da várzea amazônica. A leitura do livro tanto nos possibilita uma reflexão sobre a Amazônia e apresenta uma nova possibilidade de investigação, qual seja a terra de trabalho na Amazônia é terra, é água e é floresta. Mas há outra dimensão mais profunda que me parece tão mais importante, a de que ainda há esperanças. O livro é também uma tentativa de compreender como a esperança se torna práxis na adversidade das mediações, de como o viver se torna o sonhar no reencontro de homens e mulheres consigo mesmos, na adversidade das terras, águas e florestas amazônicas que, longe de serem os tristes trópicos, o são a terra da boa esperança.