Há livros que são como música – e não se deve dizer algo assim apenas dos livros bem escritos. Aqueles, em que as palavras parecem ser regidas por um maestro. Livros musicais são aqueles em que a páginas tantas encontramos uma frase que pede para ser repetida em voz alta. Não há maior alegria do que encontrar um trecho que parece escrito para a gente. Só nos resta o espalharmos por aí, dando-o aos pedaços, num gesto desabrido de generosidade. Livros musicais são também intimistas qual o quê – feito um quarteto de câmara que toca variações para um único tema. Lemos em tom mais baixo – ou com falsetes – sempre na tentativa louca de ouvir os tons e semitons que existem na vida do outro. Vejo flores em você – de Alice Gonçalves e Shamia Arialle é um desses livros mágicos. Caberia numa partitura e na voz da banda mais bonita de qualquer cidade. Tem a virtude das melhores canções – as que repetimos como orações que podem nos sarar da cegueira; as que repetimos como orações que podem nos sarar da cegueira; as que repetimos para nos lembrar que há algo que não vemos e que alguém, sem afetação, mostrou como é que é. Nada mais down do que se deixar levar pela beleza escondida – justo a que pode nos salvar das certezas tolas. Entregue-se a essas linhas e verá.