O que vocês encontram aqui, nas páginas seguintes e principalmente aonde ela os levar, é mais ou menos uma montanha firme, uma poética consolidada e que por isso mesmo pode ruir, derreter, evaporar a qualquer momento: essa é a força da arte genuína: confiante, sabedora de seus gigantescos limites vulneráveis. Armando tece líquidos, mistura-os, subverte-os, perseguindo seus vincos, seus cânions, suas lacunas. Busca as alamedas da memória, isola-as, cerceia-as, viciado em recuar-impulsionar sirenes. Nesse lamber o sal que escorre do peito amplifica rimas internas e aliterações delicadas, vagando no recital das reticências e, talvez por isso, esmagando as vértebras inoperantes da razão. Nessa fonte ritmada pode surgir uma bolha, encapsulada e solitária, que convida e é convidada a dançar conosco: na delicadeza, no fluido, no peso, no ruído, no fluxo, na contradição: nas incertezas sutis dos escafandros contemporâneos. Você, leitor, deixa verter o líquido azedo Diego Pansani