Neste texto original, Carmem Caetano assume a coragem de dar voz a um tema premente e actual, mas de algum modo evitado, se não mesmo calado: a relação entre a linguagem, a doença terminal, a proximidade da morte. Tecendo de modo ambicioso e complexo a rede de relações de sentido entre dizer, comunicar e silenciar a morte, o sofrimento e a dor, Carmem Caetano situa na linguagem, no discurso e nas representações sociais a experiência comunicativa de pacientes em fase terminal e dos profissionais que os acompanham. Sem se furtar, a autora presta homenagem à força funda dos casos que descreve e seguiu, deixando essa força dizer-se nas vidas concretas, nas memórias e emoções, no conforto ou na dor maior da companhia e da solidão, mas também nos discursos científicos e tecnológicos e nas redes institucionais que dão contexto à experiência profissional, sociocultural e organizacional dos cuidados paliativos no Brasil. De uma perspectiva teórica que não descura a descrição rigorosa situada na experiência empírica, Carmem Caetano consegue articular a abordagem crítica ao discurso com a reflexão sobre representações sociais e identidades culturais, num recorte que lhe permite colocar a experiência individual e social da morte e da vida na própria prática linguística, discursiva, cultural e institucional que lhe dá forma, manifesta nas vozes de doentes e profissionais. Pela clara articulação entre linguagem e prática social, este texto contribui, por isso mesmo, para a reflexão qualitativa sobre a relação entre discurso e contextos de saúde, sendo de todo o interesse para estudantes, técnicos, profissionais da comunicação e da saúde e outros interessados no tema vasto da linguagem, da comunicação e da medicina." Clara Keating (Universidade de Coimbra, Portugal)