Como encurtar a literatura feita por nossa distância? Como apontar de quem é a voz que agora surge se, no próprio ato de leitura, somos também coautores de tudo o que no texto se oculta? Não tenha por si que o poeta responda essas questões que se iniciam, senão que se insira por um vão apalavrado para enganar quem convencido lhe resume. Aqui, o poeta Dimo Fernandes parece estar sempre a nos lembrar que por trás do decadente show cotidiano, onde o sorriso frouxo se mostra obrigatório, a angústia ainda vive como o velho senhorio da casa, a nos pesar com a sua constância. Apesar disso, não podemos deixar passar que é exatamente nesse fio de sofrimento que entrelaçamos o que temos em comum: nossa humanidade. Pois, embora seja flagrante a urgência em respirar além de sua condição, é flagrante também a humanidade do poeta, escancarada em sua ferida aberta e no seu pendor contraditório. Os poemas que aqui estão se inserem justamente na impossibilidade de termos acesso ao céu de cada um, pois o poeta sabe que moramos todos na fatalidade da distância e que se nos jogamos de cabeça em certo vão apalavrado é para, de certa forma, sumirmos nele, sem receio de bastar em uma curta melodia.