...a alegria de fazer música pode ser, como em Mahler, uma dor sempre jovem. Que quando em sua música o sublime canta em meio a um tropel de banalidades, quando o metafísico se insinua em meio ao profano, quando o popular assoma entre os acordes de uma angústia controlada pela perfeita elaboração orquestral, é ali mesmo onde sabemos ? sabemos do verbo ?saber?, de ?sabedoria? ? que esse homenzinho paciente e impaciente, desolado e fogoso, terrível e doce, desamparado e glorioso, pleno de fervor e débil é o mais notável protagonista dos temores, das ansiedades e dos triunfos do homem no século XX. E, se isso não bastasse, a desassossegada relação de Mahler com a sexualidade e a morte seria suficiente testemunho de que nos encontramos diante de um irmão, diante de um contemporâneo de nossos próprios medos e de nossos próprios sobressaltos.