De volta à Universidade de Cambridge, em 1945, depois de servir o exército britânico na Segunda Guerra Mundial, o sociólogo, crítico literário, dramaturgo e escritor galês Raymond Williams (1921-1988) espantou-se com o farto e indiscriminado uso da palavra "cultura", e resolveu investigar por que tantos sentidos lhe eram e haviam sido atribuídos desde a sua primeira floração no Lácio. Ao ler Notas Para Uma Definição de Cultura, de T.S. Eliot, publicadas em 1948 e aqui traduzidas há quase 20 anos pela Perspectiva, Williams não se deu por satisfeito, muito pelo contrário, e partiu para uma investigação, pretensamente mais rigorosa, dos caminhos trilhados por "cultura" e mais duas centenas de vocábulos vitais para a compreensão do mundo moderno cujos sentidos lhe pareceram interessantes ou difíceis. Quanto mais as estudava, mais complexas suas relações intrínsecas e extrínsecas iam ficando Na primeira poda, chegou a 60 palavras, sobre as quais desenvolveu curtos ensaios destinados a um apêndice de Culture and Society, 1780-1950, importante estudo sobre a idéia de cultura na Inglaterra, desde Edmund Burke até George Orwell, passando por Eliot, I.A. Richards, F.R. Leavis e, naturalmente, pelos marxistas, publicado em Londres, em 1958, e traduzido em 1969 pela Companhia Editora Nacional. Pressionado pelo editor, reduziu o apêndice a cinco termos fundamentais - cultura, indústria, democracia, classe e arte - deixando o resto para uma obra autônoma. Ao longo de 20 anos, Williams coletou mais exemplos, encontrou novos focos de análise, e assim nasceu Keywords (Fontana/Oxford University Press, 1976), que a Boitempo acaba de traduzir (Palavras-Chave: Um Vocabulário da Cultura e da Sociedade, 464 págs.) e pretende lançar na primeira semana de abril.