Este instigante volume nos devolve uma Amazônia bem diferente, com certeza, daqueles clichês costumeiros com que nos habituaram a vê-la. Fruto bem-sucedido de trabalho acadêmico, artístico-cultural coletivo, a partir de seminário internacional realizado em Viena, em 2007, Amazônia Região universal e teatro do mundo é bela demonstração do que a perspectiva multidisciplinar pode agregar em termos de visões contemporâneas sobre este amplo e complexo cenário onde se desdobram, agora mesmo, alguns dos mais decisivos capítulos do destino da humanidade e, com ela, da vida planetária. O leitor encontrará, nestas páginas, ao longo de suas três seções e doze capítulos, enriquecidas por vários mapas esclarecedores, matérias atualizadas sobre viajantes e expedições importantes à região, do relato de Carbajal à etnografia de Nimuendaju, passando pelos até aqui inéditos diários da viagem ao rio Purus de Paul Ehrenreich, no fim do século xix; sobre a questão candente das políticas de Estado e da ocupação desordenada do território amazônico e seus dilemas econômicos, num momento em que antigos piratas travestem-se, com incrível desfaçatez, em defensores da sustentabilidade; e sobre representações literárias e artísticas contemporânea do Amazonas, coordenada por Joachim Bernauer e que deverá ter, entre seus atores, como voz da floresta, índios yanomami. Os professores Willi Bolle, Edna Castro e Marcel Vejmelka souberam organizar o livro com rigor e vivacidade. Internacionalistas, todos, diante dos desafios de uma região-mundo, aqui o contemporâneo se traduz na sua melhor expressão: como os imensos dramas e restos que a história lança diante de nossas consciências e corações, para que reaprendamos a arte de uma nova solidariedade.