O novo livro de Eduardo Júlio chega distraído, como uma garrafa lançada ao oceano. Sem hesitar, o poeta nos revela seu desamparo, uma maneira válida de se localizar no mundo. Mundo que se apresenta a partir de uma memória onírica, de formas etéreas, uma paisagem em ebulição. Observar o poente e deixá-lo escapar. Escrever poesia como uma tentativa/ de tocar ou desvendar/ o silêncio. Parece que o autor busca alcançar o cenário idílico de uma cidade, o que poderia ser um devaneio, se não fosse pela materialidade inevitável que, vez ou outra, assume lugar no texto. Sapatos na janela são um bilhete de despedida, um recado da finitude. Nesta obra, o desaparecimento e a irredutibilidade do tempo são expostos delicadamente para o leitor. O peso e a leveza oscilam nas páginas, entre maré mansa e maré cheia. Podemos ler como quem desperta de um sonho secreto, em que o céu pode desmoronar nos próximos instantes. Catarina Costa