Este livro é o resultado de longos anos de inquietação da autora sobre a relação entre indígenas e não indígenas na experiência colonial da América portuguesa. De início, foram as palavras do jesuíta Fernão Cardim que a causaram. Como assessor de Cristóvão de Gouveia, o padre visitador da Companhia de Jesus, Cardim chegou ao Brasil em 1582 e iniciou uma demorada viagem através do domínio luso-americano a fim de visitar os estabelecimentos jesuíticos, especialmente os aldeamentos, registrando as facilidades e dificuldades encontradas no processo catequético. Ao investigar sua Narrativa epistolar, percebeu os aldeamentos jesuíticos como um lugar especial: espaços forjados pelo colonizador, com princípios de catequese e inclusão da alteridade ameríndia no mundo luso, mas nos quais, estranhamente, havia uma desproporção numérica significativa entre colonizadores e colonizados, em que os últimos eram a maioria absoluta. Porém, bem mais do que um dado numérico, a observação das [...]