Elaboração ficcional dos últimos dias de R. L. Stevenson nas ilhas Samoa. Manguel constrói uma espécie de redoma erótica e, dentro dela, explora as tensões entre o recato e a desinibição, entre o pecado e a simplicidade, entre fato e ficção.Para Stevenson, "tudo o que outrora fora oculto, sussurrado, abotoado no mundo protegido de sua infância", ali, em Samoa, é "escancarado - descarado, às claras". Um dia, apenas com o olhar, ele deseja apaixonadamente o que está do lado de fora: uma adolescente que, enfeitada com gardênias, dança ao som dos tambores. Recatado, transforma o desejo em literatura; a palavra escrita o protege de querer transformar o desejo em ato. Mas haverá um crime - e os samoanos vão atribuí-lo "ao contador de histórias". A partir desse momento, tomam forma as tensões entre o recato e a desinibição, entre o pecado e a simplicidade, entre fato e ficção, entre um modo europeu de se instalar na ilha e o modo nativo de estar ali desde sempre. Stevenson, o escritor, torna-se um grande personagem.