É preciso situar o filósofo no seu tempo. Quem pode fugir às linhas culturais determinantes da época? Somente o recuo histórico faz ver as influências e os limites que vão marcar o discurso datado. Nesse trabalho a escritora Adília Maia Gaspar professora de filosofia volta-se para a leitura sobre a mulher, feita por quatro pensadores: Hume, Rousseau, Kant e Condorcet. Segundo a autora, os textos vão refletir suas biografias e ideias. Hume e Condorcet estabelecem condições de possibilidades da mulher ter os mesmos direitos sociais e políticos que o homem. Kant e Rousseau, de acordo com valores da época, apresentam a mulher como um ser que se basta nas suas funções de esposa e de mãe. Adília não quer desprestigiar as doutrinas desses filósofos que deram prestimosas contribuições ao saber filosófico. Ela quer apontar o lado cego que fez com que alguns pensadores ficassem presos aos preconceitos e fossem incapazes de ler criticamente os dizeres do senso comum do mundo em que viviam. A autora mostra que em relação às mulheres fica claro que no século XVIII, época das luzes da razão, eles reivindicaram os nobres valores, igualdade, liberdade, participação política para os homens, mas deixaram de lado os direitos educacionais e políticos da mulher. Por não querer que a visão do passado se perpetue com o reforço dos discursos dos filósofos, ela luta para que as vozes das mulheres, tão silenciadas ao longo dos anos, tenha vez. Por isso deixa às claras as falácias, as ambiguidades que se encontram nas suas palavras. O mais importante neste livro é descobrir a fala dos próprios filósofos que chegam até a provocar estarrecimento. Enquanto os comentários da autora limitam-se à análise, ela deixa a crítica para nós, leitores. E consequentemente a nossa vontade de refazer os textos.