Descobri que sou poeta é a frase que estava escrita na parede branca da casa onde Antes de morrer um poema nasceu. Trinta metros quadrados abrigaram pequenas mortes de si que, nos seus rituais de despedida, celebraram a vida e tornaram-se imortais na palavra. A poesia de Isabelle Borges é sua extensão: imensa como o mar, singela como um canto de unha, curiosa como uma criança, libidinosa como uma mulher em êxtase. Ondas da boca, primeiro capítulo do livro, é um tratado sobre a relação entre as sensorialidades do corpo e a invenção de mundos. Seu olhar para as partes compõe uma coreografia minuciosa que revela a potência que a materialidade da existência tem de provocar movimentos. Assim ela nos leva a compor e a dançar uma Mulher bicho corpo, segundo capítulo do livro, que abocanha com as fendas o seu próprio desgoverno. Não há poesia sem desordem, sem voracidade ou sem corte. Não há poesia sem vazio ou sem ponte entre os afetos e os artefatos, o contato pronuncia a escrita. Não (...)