Sedução é um jogo de esconde/aparece e os crustáceos são bons jogadores dessa categoria. Surgem das águas, como no texto de Luzia-Homem; transformam-se em comida a que não se resiste, como a torta de camarões que estalava sua crosta de ovos em O Mulato; servem de metáfora para classificar-se o tempo de vida que se merece (À mesa com Proust). Haja serventias e prazeres. Paul Bocuse, grande sedutor, explica com bom senso que "a grande cozinha não é sinônimo de cozinha complicada: pode ser uma lagosta preparada à última hora, uma salada colhida na horta e temperada pouco antes de ir para a mesa". E qual o crustáceo mais doce, mais tenro que se possa comer? Se o preparo for perfeito, respeitando tempo e frescor, os votos correm para as tamarutacas. O crítico de gastronomia da Vogue, Jeffrey Steingarten, afirma sério e compenetradamente: "Eu seria capaz de matar alguém por um prato dessas tamarutacas grelhadas, o crustáceo mais doce de toda a Criação."