A Escrituras Editora lança o livro Leda e o pavão de Fellini - Contos de amor e desamor, uma coletânea de contos da melhor qualidade, escritos por Geny Marcondes. Arranjadora, compositora, artista plástica e escritora, o mínimo que poderia nascer dessa complexa e rica mistura de artes é uma linguagem capaz de estimular todos os nossos sentidos. A eloqüência de suas palavras são como cenas de um filme, imagens rápidas e precisas. Um jogo muitas vezes expressionista, como em sua outra arte, a pintura, guia-nos para um fluxo de consciência incessante. Um pouco de auto-biografia misturada com histórias oníricas. Leda e o pavão de Fellini traz o choque entre o amor e o desamor. Em seus contos trabalha elementos semióticos, carrega cada instante com forte simbolismo. Muitas vezes, o fantástico toma conta da narrativa como em Leda e o pavão de Fellini, conto que dá nome ao livro, em que pavões brancos desceram até ela, delicados, ergueram-na aos poucos e, em revoada, levantaram-na e sumiram todos juntos pelas bandas do Tejo. Poderia até dizer que Geny Marcondes demonstra traços fellinianos ao exibir seu lirismo e seus personagens marcantes, como Leda que cria uma paixão obsessiva pela cena do pavão azul em Amarcord, de Federico Fellini. A descrição desta cena é tão rica em detalhes que chega a emocionar. Detentora de grande intimidade com os vários segmentos da arte, espalha pela sua obra uma excepcional plasticidade, composta de emoção e erotismo. Com as palavras, ela pinta a história, como em Cena campestre, em que inicia o conto com uma apresentação do cenário: depois de descrever o tempo - tarde de 1º de janeiro de 1971 - o local, a personagem e o cenário - entrada lateral de hotel rústico dando para a estrada em declive -, insere o leitor em sua criação ao fazê-lo ouvir a sonoplastia - pássaros de diversas espécies em perguntas e respostas nas árvores da estrada e na mata, mais além. Por detrás do hotel, ruído de riacho correndo ao fundo e, mais distante, o escachoeirar de uma cascata.