Uma das canções mais conhecidas dos Beatles, Eleanor Rigby, de 1966, indaga acerca das pessoas solitárias, Where do they all come from? isto é, de onde todas elas vêm?. Uma interrogação similar atravessa os 21 contos de Tantra e a arte de cortar cebolas, de Iara Biderman. Da mulher que na noite de Natal traz para casa um menino de rua à senhora que, no último conto, tenta voltar para um edifício que não reconhece, passando por michês, travestis, um bizarro vigia de zoológico, uma recém-casada prestes a chutar o balde, uma cleptomaníaca enfurecida e muitos outros personagens, em praticamente todas as histórias deste livro de vozes majoritariamente femininas há alguém que recusa o lugar onde está. Com ritmo ágil e uma grande variedade de registros, Iara Biderman escreveu um livro em que a sensação de deslocamento dá a tônica e se traduz num forte impulso de cruzar fronteiras de classe, de gênero, de sexo, de moral, de gosto e, até mesmo, de espécie.