Um dos mais complicados aspectos da sociedade contemporânea é, certamente, o advento da cotidianidade e nela o de uma vida cotidiana de desencontros entre o homem e sua obra. A duplicidade, a dissimulação, os ocultamentos, a difundida necessidade de teatralizar não só os grandes gestos dos momentos solenes da vida, mas também os gestos pequenos de todo dia, mergulham o homem moderno num reiterado desencontro com sua obra histórica, na angústia de uma História que já não parece fluir senão como farsa. Estamos em face de uma crise social, mas também de uma crise do conhecimento sociológico, que nos pede a elaboração de um mapa das dificuldades, um mapa das alternativas e saídas para a modernidade indecisa. Para o autor deste livro, é nos meandros do repetitivo, do ordinário e banal de nossa vida social que podem ser encontrados os enigmas que nos pedem uma ação transformadora e libertadora e nos apontam as saídas possíveis do labirinto em que nos perdemos sempre de novo, todos os dias. Nós nos enganamos a nós mesmos dizendo que somos, por isso, pós-modernos, embora nunca tenhamos sido propriamente modernos. Somos protagonistas de uma modernidade anômala e inconclusa, expressão de nossas insuficiências, de nossa pobreza material, de nossa dificuldade política para assumir o mandato do possível que as singularidades da História abrem diante de nós, todos os dias também. São essas as dificuldades do pessimismo de nossa época e de nosso país que o autor deste livro põe diante de nós e propõe à nossa reflexão crítica.