Gozar a Natureza! Alegra-me poder dizer que se trata de uma faculdade que eu perdi completamente. Dizem-nos que a Arte nos faz amar a Natureza mais do que a amávamos antes; que nos revela os seus segredos; e que, depois do estudo atento de Corot e de Constable, passamos a ver nela coisas que tinham escapado à nossa observação. A minha própria experiência é que, quanto mais estudamos a Arte, menos nos ocupamos da Natureza. O que a Arte realmente nos revela é a ausência de propósito na Natureza, as suas curiosas grosserias, a sua monotonia extraordinária, a sua condição absolutamente incompleta. A Natureza tem boas intenções, evidentemente, mas, como disse uma vez Aristóteles, não é capaz de as levar por diante1. Quando olho para uma paisagem, não posso impedir-me de ver todos os seus defeitos. É, todavia, uma sorte para nós que a Natureza seja tão imperfeita, uma vez que de outro modo, pura e simplesmente, não teríamos arte. A Arte é o nosso protesto enérgico, a nossa denodada tentativa de ensinarmos à Natureza o lugar que lhe é adequado. Quanto à variedade infinita da Natureza, trata-se de um puro mito. É coisa que, na própria Natureza, não se encontra. Reside na imaginação, ou na fantasia, ou na cegueira cultivada do homem que olha para ela.