Ao longo do caminho representa a história de uma mulher que acredita na força da literatura para a formação de uma sociedade leitora e que tem dedicado boa parte de sua vida a essa idéia. Em 1968, Laura Sandroni escolheu o caminho proposto por Lobato em sua obra para crianças: acreditar em sua inteligência e afetividade e na necessidade social de se produzir e oferecer bons livros para elas. Junto com mais duas pessoas ­ Ruth e Maria Luiza ­ investiu na institucionalização das ações em prol da defesa de livros de qualidade para crianças e na promoção de atividades que valorizassem a leitura literária. Assim foi criada a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil/FNLIJ. Laura, como fundadora e diretora da Fundação até 1985, foi a principal responsável por consolidar as bases que contribuíram para o desenvolvimento, o fortalecimento e o reconhecimento da literatura infantil brasileira. Uma das inúmeras ações necessárias para atingir esses fins é a crítica literária. Laura debruçou-se também sobre esta atividade, com dedicação, estudo, prazer e, é claro, muita leitura. Livre para escolher o que comentar, suas resenhas caracterizam-se por ser uma leitura do que ela mais gostou. Portanto, considerando o imenso universo literário que Laura domina, nacional e internacional, estas resenhas são também, indicações de boa leitura. Outro aspecto do trabalho de Laura é o que ele representa como resistência à mesmice, no campo da produção cultural para crianças. Em meio a uma avalanche de matérias jornalísticas sobre produtos sem nenhuma qualidade, indicar livros de literatura deveria ser mais valorizado pela imprensa. Sempre fiel ao seu compromisso inicial, Laura nunca se afastou da tarefa de ler e comentar sobre bons livros publicados, mesmo quando a freqüência de sua coluna semanal tornou-se, eventualmente, mensal. Não foi ela quem perdeu com essa diminuição de espaço, fomos nós, seus aprendizes e leitores, que perdemos. Foi a mídia, que deveria contribuir para orientar pais e professores quanto ao que escolher para seus filhos e alunos, que perdeu. Foi a sociedade que deixou de ter alguém isento e capaz de orientar as leituras de qualidade para a formação educacional e cultural de nossas crianças. Portanto, reunir em um livro o trabalho de tantos anos, confere à editora Moderna, um mérito indiscutível pois coloca à disposição dos educadores, pais e professores, um material de referência inexistente entre nós, por sua variedade, isenção e qualidade.[...] esperamos que a mídia impressa, ao ter contato com este livro, se dê conta da importância que é publicar resenha de bons livros para crianças, passando a incluí-las em espaços nobres semanais, para o bem de todas as crianças brasileiras e da nação. Como diz a própria autora, os números de exemplares de literatura para crianças publicados, por ano, no Brasil, por si só, justificariam esse espaço.Elizabeth D'Angelo SerraPara mim a importância dessas resenhas é inestimável. Ter um trabalho criticado por Laura valia mais do que qualquer prêmio. Ela costumava dissertar sobre os trabalhos que lhe pareciam bons, deixando os outros de lado. A sua gentileza e generosidade não paravam aí. Enviava por correio um xerox do artigo com uma palavra de incentivo e encorajamento carinhosamente escrita a mão. Esses correios me ajudaram muito a não capitular diante de atividades menos manhosas, e permanecer firme no desejo de escrever e ilustrar para crianças. Quantos outros colegas foram também estimulados por ela! Na verdade, Laura Sandoni semeou e cultivou no cenário brasileiro os autores e ilustradores da minha geração.Angela LagoA Laura, desde o meu primeiro livro, foi minha grande incentivadora e até hoje é a minha melhor leitora ­ até aí nenhuma novidade, porque as mães geralmente costumam incentivar e apoiar os filhos nas suas profissões ­ mas no começo da carreira fui descobrindo que aquele incentivo todo não era só para mim. Uma das coisas mais bacanas de trabalhar na área de literatura para crianças é sentir por parte dos escritores, ilustradores, editores, especialistas, professores e pais a admiração que eles sentem pela minha mãe. Sempre comentam qualquer coisa do tipo: E se não fosse a Laura, a Laura me ajudou muito no começo e eu, claro, fico toda orgulhosa. Mas a maior emoção aconteceu ano passado, numa biblioteca de uma escola pública do subúrbio do Rio, estava conversando com os alunos quando percebi atrás de mim uma Ciranda de Livros pendurada na parede com os livros todos muito manuseados e gastos de tanto serem lidos. Ali estava a prova de que as crianças também agradeciam e admiravam a Laura.² Luciana SandroniLaura Sandroni ajuda a pensar a literatura para crianças e jovens, contextualizando o livro em sua plenitude, nas narrativas verbais e visuais. Faz uma análise ampla e comparada, inteligente e questionadora, como aquele dedo enxerido da boneca Emília, fazendo cócegas no pragmatismo de nossos tempos.