Um canarinho amarelo, um carimbo todo azulado, um pote cheio de tinta azul, vários olhos vermelhos, um cordão manchado de sangue... As cores, tão caras ao universo infantil, vão colorindo essas histórias com tons de doçura e traços sutis às vezes não tão sutis de violência. São crianças que brincam, criam universos em que um passarinho se torna herói, e gatinhos são enforcados. São crianças que viajam nas férias para uma casa de campo ampla com vários quartos, e crianças que se debruçam nas janelas dos carros nos faróis para pedir algum trocado. Assim, os contos reunidos em Mirelo têm em comum o protagonismo de crianças, mas não são contos infantis. Levam-nos antes a um lugar de nostalgia, familiaridade e talvez até angústia, criando uma rede em que a ideia dos fragmentos palavra que dá título a um dos contos parece definir bem a noção desse mundo outro que é a infância.