A impossibilidade de determinação é talvez o que melhor caracteriza a (anti)obra Como é de Samuel Beckett. Romance que não tem nada de romanesco a não ser a referência ao anti-herói picaresco, drama apocalíptico irrepresentável em mais de um sentido e fim enfático de qualquer possibilidade de Eu lírico, trata-se, enfim, de uma obra como (ela) é: o mínimo possível, aridez narrativa e anímica, que de tanta falta pode ser também quase tudo. Sua leitura dispara o aguilhão hermenêutico que nunca encontra descanso na comodidade do já entendi. Trata-se aqui de menos poesia, no sentido positivo que Novalis atribuía a esta expressão. O máximo deve ser atingido via autolimitação. Monólogo em moto perpétuo, seu anti protagonista espécie de sobrevivente da hecatombe final narra retrospectivamente sua vida antes, com e depois de Pim. Esta tripla temporalidade arquetípica, assim como a própria identidade do anti protagonista (sem nome), são postas em questão todo o tempo. Fragmentos de vida [...]