A imagem de uma rede, pano de fundo da capa desta obra, refere-se diretamente ao seu conteúdo singular. Um trabalho inicial, coordenado pela Professora Carmem Maria Craidy e por seu grupo de alunos e alunas, encontrou, ao longo dos anos, muitas parcerias, como a da Professora Gislei Domingas Romanzini Lazzarotto, do Instituto de Psicologia, e do Professor Salo de Carvalho, da Faculdade de Direito, entre tantas outras. Reunidos, constituíram uma grande rede de ações e de reflexões sobre o significado dos processos educativos desenvolvidos no Programa de Prestação de Serviços à Comunidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em meio aberto.As ações desenvolvidas por esse singular grupo de professores e alunos partem do princípio soberano, previsto em lei, do direito de adolescentes que tenham cometido atos infracionais de menor relevância, à educação, ao respeito e à liberdade, ou seja, seu direito a medidas socioeducativas menos interventivas possíveis, de maneira a que venham a adquirir, gradativamente, a condição de uma autonomia consciente e responsável sob o atendimento de adultos que os orientem nessa direção. Processos esses, numa direção completamente oposta ao controle social de caráter totalizante do sistema prisional vigente, onde impera a violência e a falta de respeito pela dignidade humana.O objetivo dos autores e autoras deste livro é compartilhar essa rica experiência de ações em rede de todos e todas que se dedicam ao corajoso trabalho de resgate da cidadania de adolescentes marcados por processos sociais de opressão e de violência. Somente a partir de seus depoimentos e conhecendo as suas histórias, segundo a Professora Gislei, pode-se construir uma análise compartilhada das repercussões de seus atos em suas vidas e nas vidas de outros. Também nós, da equipe do Programa, somos confrontados com limites de nossas ações, diz a autora, frente à violação de direitos, às questões econômicas, à fragilidade de políticas públicas. Nesse sentido, levamos para o PPSC elementos que possibilitem a compreensão histórica e política de como se produzem nossos lugares e nossas escolhas na vida. Esse grupo de professores e alunos vem cumprindo seu papel em termos do resgate à cidadania desses adolescentes. Certamente, a experiência vivida por todos, as equipes e os adolescentes, ao longo destes anos, é diferenciada pelo avanço reflexivo crítico que tal prática vem proporcionando. Mais ainda agora, ao compartilharem com outros educadores, gestores, legisladores, políticos e a sociedade em geral a produção desta obra coletiva, cujo objetivo primeiro é suscitar ações em rede com a efetiva participação de todos os setores da sociedade.