Este é um livro de experiências, melhor: uma prosa-experiência, trabalhada, como diz o autor, na composição "de esferas humanas nos seus retratos, mas não em suas exatas realidades". Assim, a extrema delicadeza na coleta de resíduos, do mundo e do sujeito, opera uma linguagem estética reveladora de rastos, de rostos, de perfis, de marcas, quase apenas sinais de pele estampados em meios diversos.Essa prosa-experiência recolhe, nos onze blocos que compõem o livro, uma variedade, pode-se dizer, mágica de tons e registros que embalam (em duplo sentido) os tempos modernos como estes se apresentam, desde o cotidiano vivido e registrado nas minúcias pouco palpáveis até os grandes caminhos e as vastas tradições e edificações das artes e da vida.Como pode o leitor logo perceber, a diversidade temática (e formal) põe à prova a sensibilidade privilegiada do poeta, agora aventuroso (e venturoso) nos caminhos da prosa. Até certo ponto é uma retomada da tradição do poema em prosa, que no Brasil contou com poetas da estatura de Cruz e Sousa, conquanto este Das estampas promova variações estruturais e formais que funcionam como neblina para marcar suas distâncias. O leitor tem, desse modo, um percurso de leitura que poderá reunir sua própria experiência com a deste livro e ambos estarão enriquecidos para a compreensão do sentido da vida e da poesia.